Certo dia, assunto vai, assunto vem, e meu gestor me contou que estava participando de um curso de agile e alguém fez a seguinte pergunta:

– Como identificar quem não está sendo produtivo quando a metodologia usada para o gerenciamento do desenvolvimento de software é uma baseada no ágil?

Na mesma hora veio em minha cabeça a experiência que tive em um laboratório da universidade – sim, por incrível que pareça, o laboratório usava metodologia ágil. Lá, a metodologia utilizada para gerenciar nossos projetos, de trabalho de conclusão de curso, inclusive, era conhecida como
BOPE.

O BOPE foi criado por um de nossos professores com o objetivo de inserir metodologias ágeis no ambiente acadêmico, o que pode vir a ser uma tarefa bastante difícil.

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    Um processo rígido pode ser um tiro no pé

    No BOPE, nós seguíamos alguns elementos do Scrum e do XP. O nome BOPE não é à toa, pois se tratava de uma metodologia bastante rígida onde tínhamos que contabilizar nossas horas de trabalho e enviar toda semana para o nosso gerente de projetos, além de um descritivo com todas as tarefas que terminamos durante aquele tempo.

    Contando para o meu gestor sobre o BOPE, eu disse que esse tipo de metodologia funcionava para nós, porque estávamos em ambiente onde a rigidez do processo não parece ser algo fora do comum. Já nas empresas (ou na maioria delas e, aqui na Locaweb) aquilo poderia ser considerado um absurdo, pelo menos a parte de contar as horas trabalhadas. Na Locaweb por exemplo, nós temos um sentimento que a empresa confia no nosso trabalho e, implementar algo deste tipo seria dar um tiro no pé.

    O fato é, no processo waterfall é fácil de identificar esse tipo de coisa, pois temos (na teoria, mas quase nunca na prática) um escopo de atividades e tempo bem definidos. Já o processo ágil se baseia na flexibilidade e resposta à mudanças o que o torna algo totalmente dependente da produtividade da equipe como um todo. Encontrar uma peça defeituosa sem levar para individualidade pode ser uma tarefa difícil para quem está de fora gerenciando, pois a equipe pode ser produtiva o suficiente a ponto de mascarar alguém que não é.

    O ponto é que falar de individualidade e agilidade ao mesmo tempo não faz sentido.

    Qualquer que seja a metodologia baseada no ágil tem um ponto fortíssimo no trabalho em equipe e, levar para a individualidade seria ir totalmente contra o mindset.

    Times que não se incomodam com o fato de algum de seus integrantes os levarem para baixo têm um problema maior. Talvez tenham chegado num ponto em que acham que não têm o que melhorar  – e esse é um dos maiores erros que uma equipe pode cometer.

    Não existe bala de prata

    Para identificar problemas desse tipo não adianta levar para o individual. No Lean se prega que na grande maioria das vezes a  culpa  é do processo e não das pessoas. E vai um pouco mais além. É provável que o sistema em que este time está inserido esteja desequilibrado e isso irá influenciar tudo e a todos. Os líderes precisam parar de olhar para o individualismo e começar a entender quais as falhas no processo que estão fazendo com que os problemas aconteçam e agir para restabelecer a ordem do sistema.

    Nesse momento, você pode estar se perguntando: – Mas o que que eu faço com aquela pessoa que não está disposta a melhorar?

    Se você identificou que algum de seus colaboradores tem esse problema, é porque o sistema foi falho o suficiente para não identificar que aquela pessoa não tinha o perfil correto para estar ali e provavelmente ela está infeliz, trabalhando somente pelo dinheiro. Nesse caso, o líder deve ser totalmente franco e fazer com que essa pessoa consiga enxergar que está no lugar errado e que ela precisa promover uma mudança na vida dela.

    Se você quer realmente começar a identificar os problemas de produtividade da sua equipe como um todo, o mínimo que você deve fazer é ter métricas contínuas de desempenho do grupo. Sem ter essa visibilidade, como que você saberá que a equipe está melhorando ou piorando? Ou como você conseguirá identificar quais os problemas externos que mais impactam na produtividade?

    Me desculpe, mas feeling e intuição não são se sustentam mais nos ambientes empresariais que temos atualmente. Hoje as empresas são verdadeiros organismos vivos que se transformam a todo momento e é fundamental que todo e qualquer processo seja visível e adaptável para responder a essas transformações constantes. É claro que as métricas por si só não salvam o mundo. Além disso, o líder precisa ser capaz de identificar os problemas no sistema e corrigi-los, o que pode não ser um tarefa tão simples assim.